Entrevista a Carlos Teixeira

Carlos Teixeira era, até início de Março, o treinador principal da nossa equipa de juniores. A saída abrupta da anterior equipa técnica precipitou o inesperado convite. Carlos, que esperava por esta altura estar concentradíssimo na luta pela Taça Nacional de Juniores, acabou por ser o timoneiro na grande reConquista: o futsal do Belenenses voltou à 1ª Divisão!

Carlos Teixeira

Quando há cerca de dois meses passaste a liderar também a equipa Sénior, não quiseste tecer grandes considerações. Foges dos holofotes? Porquê?
Não fujo mas também não faço nada para procurar, cada um tem as suas vocações e a minha é no terreno com os meus jogadores. Há quem se promova e cuide demasiado da sua imagem publica. Eu não disperso a minha concentração com "holofotes".

Objectivo da subida de divisão alcançado. Hora do contacto com os adeptos. E tu até estás muito bem cotado junto dos adeptos do Belenenses. Sentes-te bem com isso?
Muito bem, sempre tive uma boa relação com os adeptos, talvez porque sabem que desde sempre dei tudo por esta camisola. Nem sempre fiz tudo bem, mas a entrega e o respeito pelo emblema, esses estiveram sempre em 1º lugar.

Mas agora saíste da tua "zona de conforto", aquela em que todos já sabem que és competente. Não hesitaste na hora do convite?
Não hesitei um segundo, por três ordens de razão: 1º porque sou ambicioso; 2º porque acredito muito naquilo que faço; e 3º porque conhecendo muito bem o futsal do Clube e as pessoas que nele têm responsabilidade, sabia que me iriam apoiar e proporcionar tranquilidade para desenvolver o meu trabalho.

Os jogadores já não eram "meninos", eram mais velhos...
Claro, mas também nesse campo estava à vontade, já os conhecia a todos. Gente mais velha, sim, mas todos com a consciência de que o meu sucesso era o sucesso deles e que me acolheram muito bem desde o primeiro momento.

Tu, que acompanhavas a Equipa e o excelente início de época, mudavas algo se fosses na altura já o treinador?
A equipa era muito bem orientada pelo prof. João Pinto, homem por quem tenho grande respeito e a quem reconheço grande competência. Mas cada treinador tem os seus métodos e as suas preferências. Eu colocaria a equipa a jogar como a tentei colocar agora. Tenho os meus princípios de jogo, que coincidem com os que o Clube defende e o que me foi pedido foi que ganhasse jogos. Não havia muito tempo para grandes invenções.

Carlos Teixeira

As primeiras semanas não foram fáceis…
Quando há alteração de liderança, perde-se umas coisas, ganha-se outras e realmente as três primeiras semanas foram de conhecimento mútuo, de assimilação de novos métodos de trabalho, de uma nova forma de comunicação.
A juntar a isto os dois primeiros resultados também não ajudaram. Mas senti sempre que iríamos conseguir, pela vontade que via nos jogadores em tentar pôr em prática rapidamente o que era pedido.

A verdade é que assumiste a equipa em 1º lugar da classificação e, embora tivesse havido nessa altura um tropeção, nunca deixaste de ser comandante e vais terminar em 1º lugar. Alguma vez "tremeste"? Alguma vez pensaste que não iriam conseguir?
Costumo dizer muitas vezes que "os jogos só terminam quando o arbitro apita" e a verdade é que nunca podemos dar as coisas como certas de acontecer, mas sempre estive muito confiante. Confiança essa que me era passada pelos atletas, desde a primeira conversa, desde o primeiro treino, pela atitude em jogo, sempre os senti muito comigo e com muita vontade de devolver o Belenenses ao lugar que lhe é devido.

Ficou a ideia que o Grupo sentiu bastante o jogo com o Vila Verde em casa. Ficou uma ideia de frustração. Deu a parecer que depois desse jogo a "cara ficou mais sisuda" e os "punhos mais cerrados".
Não concordo. O grande click, a grande frustração aconteceu no empate em Loures, de onde saímos todos com o sentimento que tínhamos que fazer mais e melhor. Desse jogo sim, saímos todos com os "punhos cerrados".
No jogo com o Vila Verde, apesar da derrota, a equipa sabia que tinha jogado bem, muito bem mesmo, e que só por contingências do jogo é que não vencemos. Relembro que só nesse jogo finalizámos por 72 vezes contra 12 e perdemos 6-4. Mérito do adversário, mas muito demérito nosso na finalização. Isto apesar de uma excelente exibição, a melhor da época. Mas acabamos por sair fortalecidos desse jogo.

A partir desse dia, de Loures, e até pela forma como foi arrancado o empate, o Grupo que já era unido ganhava um aliado de peso: A bancada. (se bem que já nos Lombos isso se tenha notado...) Sentias essa importância? Com tanta juventude, o factor psicológico era assim tão preponderante?
Foi muito importante, importantíssimo mesmo, até porque alguns destes jovens viveram situações e emoções novas. O apoio dos adeptos foi e é essencial e nesse dia em particular os adeptos foram muito importantes, assim como os atletas mais velhos que tiveram um papel primordial, pelo que fizeram dentro do campo e pelo trabalho invisível com os mais jovens.

Curioso ver que tinhas jogadores mais próximos da tua idade e tinhas também o Bruno Pinto, que trabalhou 4 anos contigo (embora já fosse treinar muitas vezes aos seniores). Sentias que a tua mensagem passava por eles?
Sem dúvida. Sentia que tinha que os "convencer" primeiro a eles (os mais velhos) e felizmente foram sempre os primeiros na ajuda para conduzir o Grupo.
O Bruno Pinto é um menino que conheço como ninguém e por quem nutro um carinho muito especial, com um talento incrível e que precisa (como os outros mais novos) de ser acarinhado e orientado diariamente.

É um produto da "Escola Belenenses". Vêm aí mais? Foi frequente ver muitos juniores nos treinos dos seniores, nas viagens e convívios. Faziam parte do grupo?
Claro que sim. Nesse aspecto, também a Secção de Futsal vem trabalhando muito bem nestes últimos anos na formação e o objectivo é estreitar ainda mais a ligação entre os seniores e os juniores com o objectivo claro de, já na próxima época, colocar alguns dos nossos juniores na equipa principal.

Objectivo claro de vencer a Taça Nacional está ao alcance da equipa júnior?
Acredito que sim. Esta equipa de juniores trabalha junta há 2 anos e alguns há 3 anos. É um projecto forte da Secção, que tem tudo para dar certo. Se nos mantivermos humildes, trabalhadores e ambiciosos, como até aqui, iremos sem dúvida discutir o título nacional.

Carlos Teixeira

Voltemos aos Seniores e a Albufeira. A certa altura do jogo foi audível na bancada: "Nós não nos vamos daqui embora sem a vitória!" Era esse o espírito? Sentiam que estava já ali?
Não só sentimos "que estava já ali" como queríamos acabar já ali e conseguimo-lo da melhor maneira, com uma segunda parte de grande nível, repleta dos predicados e adjectivos que defendemos para o futsal do Belenenses: atitude, vontade, querer, garra, bom futsal e comunhão absoluta com a bancada.

Eras um homem feliz, após o jogo. Via-se na tua cara. A tua figura de disciplinador, de Líder exigente, já não estava mais ali. Eram todos companheiros de luta, felizes por vencerem.
São sensações de alegria indescritíveis e, naqueles momentos que se seguiram ao apito do arbitro, era mais um no meio de tantos, com vontade de pular, abraçar, rir, chorar e de partilhar com os "meus" o atingir do nosso sonho.

Consegues ter a noção do feito que foi alcançado? O Grupo percebia o esforço que era feito por quem "corria por fora" para que tudo corresse bem, para que houvesse sempre condições de trabalho, para que cada um fizesse o seu papel neste imperioso objectivo de subida à 1ª divisão?
Essa foi a principal razão para termos subido, o esforço feito por todos. Não posso falar do que acontecia antes de eu ter assumido responsabilidades, mas desde que cheguei o grupo sempre teve consciência das dificuldades e do grande trabalho desenvolvido pelas pessoas do NAF para que nada faltasse.

E agora? O que vamos ter até final da época?
Vamos preparar-nos convenientemente para a disputa do título nacional, pois é algo que ambicionamos vencer. Tornar esta época inesquecível, quanto mais não seja para fazer lembrar que o lugar do Belenenses não poderá ser, nunca mais, na 2ª divisão.

Não vais "levantar o pé"?
Depois de ganharmos o titulo levantamos.

Qual a ambição para a próxima época?
Vamos ver o que nos reserva a próxima época. Para já o objectivo é a manutenção e voltar a consolidar o Clube na 1º divisão, pois temos consciência das dificuldades que aí vêm. Mas não entraremos derrotados em nenhum pavilhão. Jamais.

Aproveitando a oportunidade que me concedem, quero agradecer em primeiro lugar aos jogadores pela entrega e empenho, por terem acreditado em mim e por me terem ajudado e seguido. Eles são os principais obreiros desta subida, assim como os restantes elementos da minha equipa técnica: o Jorré, o Ramiro, o Pedro Teixeira, o Secretario Técnico Bruno Nunes, e ao restante staff, por toda a ajuda e apoios prestados.
Depois é mais que justo que faça um agradecimento muito grande aos dirigentes do NAF. Não só por terem apostado em mim, mas pelo esforço, dedicação e coragem que demonstram a cada dia. Por último ao Nuno Lopes por ser a minha "zona de conforto", pela lealdade e cumplicidade que sempre mantivemos.

Este êxito tem obviamente algumas dedicatórias, e como é natural a família está à cabeça. Foi sempre muito importante ter na minha esposa e na minha filha o apoio imprescindível para que a motivação estivesse sempre em níveis máximos. Foram e são sempre o meu "combustível".

Dedico também aos únicos treinadores de quem fui adjunto e com quem muito aprendi: o Manuel Jorge, que me deu a conhecer o que era o Futsal e o "professor" Alípio Matos de quem "bebi" tudo o que consegui e que serviu para que seja hoje um melhor treinador.

Por último a derradeira dedicatória vai obviamente para todos os adeptos. Os que nos acompanham e também os outros. Tenho 8 anos de Clube e já vi bancadas cheias e vazias. Já assisti a verdadeiros infernos e a jogos quase em família. Já me senti a ser levado por uma onda de apoio avassaladora, assim como já me senti sozinho.
Acreditem que sempre que acontece a primeira situação a equipa é mais forte e quase imbatível. O poder que vem da bancada é poderosíssimo, e os jogadores sentem isso como ninguém.
Este sucesso volta a colocar o Belenenses no seu lugar, e o que espero e anseio é que todos os que antes nos apoiavam e por nós vibravam, voltem à bancada. Este sucesso é acima de tudo para eles e para o prestígio do Clube de Futebol «Os Belenenses».